Um ancestral: Sobre o Rei, sobre Chadwick Boseman. E sobre minha existência. Nossa existência.
“Os nomes que essa gente nos dá… como se nos conhecessem, ou aos nossos feitos, melhor do que nossos pais. São pessoas sem imaginação, Dr. Franklin. Para eles, somos apenas sombras de sua própria glória, nunca nós mesmos. Belos e originais. Não há nada de original em ser ‘Bruce Banner negro’ as prisões estão cheias de Bruce Banners Negros. Imagino que saiba.”
Rei T’Challa — arco Pantera Negra, Vingadores do Novo Mundo
Assim eu abria meu texto para a maior revista de RPG do país. Depois de um convite feito pelo meu ídolo no RPG e sim, eu queria falar de afrofuturismo. E voltei nesse trecho no meu ultimo investimento no tema. Tema que eu tenho dialogado bastante desde o momento que voltei ao RPG. uma das minhas maiores referências certamente foi Chadwick Boseman para que eu reorganizasse minha bússola e meus referenciais.
Antes de seguir, deixo um aviso. Só quero escrever o que penso. Por isso o texto terá lacunas, ou cheio de intervalos inevitáveis. Mas, agora só me interessa dizer algo.
A cena do RPG e o mundo nerd eram hostis demais para os sonhos de um homem preto, que sempre gostou de contar histórias, jogar RPG e refletir sobre a própria existência. Na real, gente como Chadwick ajudou uma moçada a se notar, a acreditar na própria trajetória. Contribuiu para que a gente se olhasse com mais carinho, notássemos nossas belezas e que pudéssemos falar de nossas vidas, tão amplas e tão bonitas.
Como professor de Educação Física, trabalhar o baseball se tornou ainda mais positivo, por notar a intencionalidade do esporte e mais ainda, por ver um grande filme (ainda que com alguns problemas, que obviamente são fruto da disputa de narrativas) sobre a luta de Jackie Robinson e tão bem interpretado pelo Boseman. Baseball fez mais sentido de ser aprendido e ensinado…
O texto é escrito com lágrimas, sim, mas fico aqui pensando nos presentes que o universo nos dá e na forma Denzel Washington e Chadwick Boseman se encontraram. Talvez um não soubesse do outro, mas… os Ancestrais, ah… os Ancestrais… Sopram ventos que podemos ouvir as vozes daqueles que lutaram por nossa existência, guiam cada escolha, consolam em cada dificuldade que podemos encontrar. Nos ensinam a trilhar o caminho do conhecimento e da liberdade.
No ultimo mês lançamos nosso livro singelo o RPG Indagações. E a imagem (para mim natural) que eu escolhi era a do sonho de infância. De ser como o nosso rei, afinal, eu tenho muito orgulho de carregar ancestralidade de um rei genial, generoso e sábio, afinal, quem teria tamanha sapiência em dizer para alguém que poderia matado que “eles não sabem quem somos”?
De fato meu Rei. Somos mais do que querem nos definir. Podemos ocupar os lugares que tanto sonhamos, lutar pelos nossos que agora choram, sonhar com novas histórias e precisamos fazer isso em dialogo com os nossos, algo que você sempre propôs em fazer.
A vida de Chadwick Boseman, seus trabalhos, me inspiram. E eu como vários pretos e pretas espalhadas pelo mundo, que gostamos tanto daquilo que fazemos, vamos sim chorar sua passagem, mas acima de tudo, vamos notar a importância de nossa ancestralidade, dos legados que ficam.
E quando eu vi esse vídeo pela primeira vez, eu pesava:
“Mano, o que eu diria pra esse cara, que interpretou meu herói favorito?”
Somente, obrigado. E que novas histórias serão contadas.
Obrigado Chadwick Boseman.